11.5.04

10/05 - 16:00
quem não gostar do facto de estar a escrever estas linhas,
depois de ter fumado uma, pode parar de ler agora...
estou na casa da minha irmã, escrevo no meu portatil,
na mesa da sala de estar, a margot está também na mesa.
inspecciona tudo com medo, a música deixa a assustada.
a mim também, esta música é assombrosa, então nestes momentos
torna se colossal, um emaranhado de sentimentos.

descobri que não sou tão indiferente,
em relação aquilo que os outros acham de mim.
antes só queria ouvir e ver o que os outros
pensavam mal de mim, pois não acreditava que
houvesse um sentimento tão bom que pudessem
sentir em relação a mim, o mundo também tem coisas boas.

quando o rui me disse que já tinha passado por tudo isto,
não o queria ouvir. sabia que estava a entrar nessa fase,
mas não queria o admitir. como é que um dos meus amores
me podia corromper? lembram-se das sereias e dos marinheiros?
já sei o que é fumar e me sentir ainda pior do que antes.
isto não é suposto acontecer. suponho que seja o mesmo
que enjoar um prato, um doce, sei lá, por estarmos
constantemente a comer esse prato ou doce... no entanto,
no meu caso não é uma agonia física, é mental... está na alma.
vai passar concerteza, se tivesse fumado com o manel,
neste momento estaria feliz, já tinha tido uma conversa
bastante interessante, já tinhamos desabafado um com o outro.

a margot está com um interesse bastante irritante em relação aos fios que saem do portatil...

preciso que me digas uma coisa, depois de leres o que escrevi,
tens uma ideia de como me estou a sentir. quando estás como
eu estou agora, também ouves músicas tristes, e por incrível
que pareça sentes te bem assim? sentes te bem, mesmo estando triste?

daqui consigo ouvir os putos da primária a sair da escola,
que saudades tenho desses tempos em que tudo era tão simples.
fui uma criança feliz, apesar de certos períodos algo maus,
penso que até tive sorte. nunca me faltou nada e até acho que
fui muito mimado em termos materiais... tal como a minha irmã.

admiro muito a decisão da minha irmã: sair de casa, morar sozinha.
principalmente da maneira como o fez...
com um ordenado não muito alto, vai trabalhar todos os dias,
volta para casa e para a sua "filha", faz o que tem a fazer,
faz os possiveis por estar com os amigos, e ao fim de semana
diverte se ao máximo... como é que a minha irmã, mais velha que eu,
mas que parece ter 18 anos, consegue fazer tudo isto e parecer
que não é nada? a minha irmã é linda... tenho sorte de poder contar
com a minha irmã para o resto da vida, tenho a certeza.

a margot não está a gostar muito de ouvir mogwai... compreendo.


acordar bem cedo, abrir a janela
e sentir o vento fresco e o sol timido da manhã
mais um dia começou.
passear sem rumo pelas ruas de lisboa,
olhar para as pessoas com pressa a caminho do trabalho,
olhar o ceu e sentir o calor do sol na face.
passar o resto do dia a fazer o que é suposto eu fazer,
sempre com convicção e gosto,
sempre a um ritmo leve e sem surpresas.
a noite chega, janto com os meus, enquanto falamos de tudo e de nada,
estar com os amigos no café,
estar feliz por amanhã começar outro dia.